Padroeiro do Budismo no Brasil

Verso do Grande Mestre Nissen Shounin nº 578
16/09/2020
Encerramento da Maratona de Orações
22/09/2020

O Padroeiro do Budismo no Brasil é o Mestre Ibaragui Nissui Shounin.

Sacerdote do Budismo Primordial, a sua entrada no Brasil como sacerdote, consta na Certidão de Desembarque do Museu da Imigração da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo.

Ao chegar no porto de Santos no dia 18 de Junho de 1908, às 18:00 horas, ele celebrou o primeiro culto budista, no convés do navio Kasato-maru. Foi o primeiro culto budista em terras brasileiras.

Ele, Tomojiro Ibaragui, nasceu no dia 18 de Dezembro de 1886, em Quioto. Aos 22 anos, apresentou-se voluntariamente para acompanhar os primeiros imigrantes japoneses ao Brasil, respondendo ao pedido do bispo do Templo Seiouji (Tóquio), de onde pertencia.

A incrível história de Ibaragui Nissui, o primeiro monge budista a pisar no solo brasileiro, é marcada pela superação aos sofrimentos, forte determinação para expandir o Budismo, humildade e a inabalável fé ao Darma, que se manifestaram como inúmeras bênçãos em toda a trajetória da sua vida.

A sua missão era dar apoio espiritual aos imigrantes e fazer a expansão do Budismo Primordial. Mas, logo ao chegar, tanto quanto um imigrante comum, começou a trabalhar nas fazendas de café, pois tinha que sustentar a família, formada por ele, a esposa Tiyo e o irmão Shintaro. Apesar do árduo trabalho de 10 a 11 horas por dia, o que recebia nunca era suficiente para se alimentar adequadamente do alimento básico, o arroz, porque as compras tinham que ser feitas no armazém da própria fazenda, sem ter como controlar o preço. Assim, à procura de algo melhor, nesse período inicial de 10 anos, ele trabalhou em 7 locais diferentes, em diversas atividades como copeiro, pesador, fiscal e intérprete. Além do trabalho árduo e penoso que não estava acostumado, havia a difícil tarefa
de conciliar o relacionamento entre os imigrantes. Pelas condições muito diferentes do que haviam prometido, fugas e transferências aconteciam com freqüência, pois sentiam se lesados. E nesse início de adaptação, ele ainda sofreu a perda do seu segundo mestre, da sua avó e da sua mãe, todos no Japão e mais a do seu filho de 2 anos.

Em 1926, ele passou por mais um grande revés quando, indo ao Japão a fim de buscar recursos para idealizar a colônia budista no Brasil, o governo japonês indeferiu o pedido. Durante a sua permanência no Japão ainda recebeu o comunicado de falecimento do seu irmão Shintaro, aos 33 anos. Sentiu-se culpado por não ter podido salvá-lo. Mais do que um irmão, ele o considerava seu protetor.

Influenciado pelas falas de que deveria ficar definitivamente no Japão porque já fizera bastante, enviou carta à esposa dizendo para vender tudo e retornar. Afinal ninguém poderia dizer que ele não tentou. Mas, recuperando o espírito de um monge que fez o juramento de levar o Darma Sagrado de Buda ao lugar mais longe que se possa ir, assim como o espírito de principiante de simplesmente servir ao mestre, resolveu voltar ao Brasil para continuar a sua missão inicial de expansão do Darma. Se permanecesse tornaria vã a morte de seu irmão que tanto o apoiara.

Retornou ao Brasil em 1929, novamente como um enviado de Buda.

Foi o RECOMEÇO aos 44 anos, sem o irmão que tinha sido o seu apoio e sem a esposa, que estava voltando ao Japão por não ter recebido a carta de Ibaragui sobre a nova decisão.

E ainda sem dinheiro, pois, tudo que havia conseguido pela venda dos pertences, Tiyo havia enviado ao Japão. Ele estava na completa miséria.

Depois de 21 anos no Brasil, não poderia estar em situação pior. Sentindo-se muito solitário não conseguia realizar nada. E a sua infelicidade completou, quando recebeu, logo no início do ano seguinte, o comunicado da morte de Tiyo, no Japão, por pneumonia. Já não havia como Ibaragui cair mais. Tudo que tinha conquistado, fora lhe tirado.

Ele sofreu muito, chegou a mendigar por alguns meses. Mas, orava todos os dias de modo fervoroso por várias horas. Foi nesse período que os colonos brasileiros, com seus filhos doentes, começaram a procurar Ibaragui acreditando que alguém que orava tanto, deveria possuir um dom especial. E ensinando as pessoas a orar fazia manifestar as bênçãos e assim, a expansão foi acontecendo.

Depois de quase dois anos de dedicação à vida ascética, convertendo aleatoriamente as pessoas através das bênçãos, começou a ser procurado pelos fiéis que estavam se multiplicando.

Finalmente, em 13 de Outubro de 1932, Nissui Shounin consegue celebrar o 1° Culto com os fiéis, oficializando o Grupo Taissen, na presença de 74 pessoas. As sementes plantadas por ele em 1908 começaram a brotar. Foi o dia em que pela 1° vez no Brasil, as três jóias de Buda se completaram num histórico culto.

Em 13 de Novembro de 1936 foi inaugurado o primeiro Núcleo do Budismo Primordial. Nissui Shounin cedeu a honra da inauguração desse que seria o 1° Templo Budista no Brasil, Templo Taissenji, ao 7° Sumo Pontífice Nitijun Shounin. Foi um dia inesquecível.

Ninguém poderia entender o tamanho da alegria de Nissui Shounin. Pela primeira vez Ibaragui passou a morar num templo, assim como um monge normalmente faz. Foram 28 longos, inacreditáveis e inexplicáveis anos em que se dedicou para esse momento. Já estava com 50 anos de idade, continuava sem um vintém no bolso, mas podia dormir saudavelmente num templo, ao lado do Altar. Era a história do Budismo no Brasil assim como a sua ao mesmo tempo. A largada foi dada.

Em meio à guerra com restrição às viagens, ter sido preso no presídio da Ilha Grande e às perseguições, ele conseguiu inaugurar mais 6 templos no Brasil.

Templo Nissenji em 1940, Templo Ryushoji em 1941, Templo Butsuryuji em 1949, Templo Hompoji em 1950, Templo Nikkyoji em 1962 e Templo Hoshoji também em 1962.

Em 1964 recebeu o grau de Pré-Pontífice e a Comenda Marechal Cândido Rondon. Em 1968 recebeu do Governo Japonês a medalha “Ordem do Tesouro Sagrado Raios de Prata”.

Em 1971 recebeu a medalha José Bonifácio de Andrada e Silva, o Título Honorífico de Cidadão Amigo do Povo e o grau de Pré-Sumo Pontífice.

Em 1° de Novembro de 1971, aos 85 anos, faleceu serenamente, como um nobre monge, após cumprir o objetivo da vida de ser um Bossatsu e fazer a expansão do Darma Sagrado. A despedida à sua terra natal já havia feito em 1965, na sua terceira viagem ao Japão, quando ele mesmo declarou ter recebido tratamento de príncipe.

Em homenagem a esse Padroeiro do Budismo no Brasil, será celebrado no dia 1° de Novembro de 2020, o seu 50° Culto Póstumo, no Templo Taissenji, em Lins.

Fonte: ”O que é Primordial” – Budismo 100 anos