Lei da Interdependência

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Ninguém pode viver só! É preciso ter a cooperação de muitas pessoas para vivermos. Essa verdade chama-se “Lei da Interdependência” (Innen no Hou), e é um dos princípios básicos do Budismo.

Neste mundo, tudo é controlado pela força desta Lei. Todas as realizações são devidas às ações deste IN (causa direta) e do EN (condição indireta). Sem o funcionamento desta lei, nada se efetiva neste mundo. Não há realização de uma pessoa só, nem algo estável para sempre, sem mudanças.

Originalmente representa algo em seu começo (origem) e o que se ocasiona em sua extensão. Representa algo como a relação que existe entre a raiz e o caule de uma árvore. É exatamente dentro deste tipo de “relação” que realmente podemos identificar a existência de algo.

A existência é algo que por si só não existe. Toda a existência só se é a partir da co-relação que mantém com o universo a sua volta. Isso deve nos fazer perceber que nada pode existir de forma independente e que, nada existe independente dele. É semelhante a um tecido. Chamamos de tecido aquilo que na verdade é uma relação entre fio, fios distribuídos na vertical e horizontal e cada ponto da malha. Chamamos o resultado dessa relação entre fios e malhas de “tecido”. É assim que é interpretada a lei da interdependência. Tudo que falamos e fazemos em nossas vidas é resultado da lei da interdependência.

 

Buda ensina que: “A verdade universal se origina na Lei da Interdependência. Tudo que preguei, sejam os mais simples ou profundos ensinamentos, podem parecer uma filosofia complicada. Todavia, posso afirmar que a verdade universal de todos os ensinamentos se encontra na lei da interdependência. Ou seja, a lei da interdependência constitui o cerne dos meus ensinamentos”.

 

Com essas palavras Buda declara que foi somente a partir dessa ótica é que a iluminação lhe foi possível. O ‘olho’ que permite visualizar a iluminação se chama ‘Lei da Interdependência’. Tudo faz parte, nada vive ou sequer existe fora dessa lei, que permeia a essência da existência e dos acontecimentos.

Esta mesma essência que também permeia as Quatro Nobres Verdades e a Senda Óctupla é pregada de forma detalhada por Buda nas “12 Interdependências” e representam parte fundamental da doutrina budista.

 

1. IGNORÂNCIA (Sânsc: avidya): É o desconhecimento das quatro verdades nobres.

2. FORMAÇÕES (Sânsc: samskara): Resultantes da ignorância, são as vontades ou impulsos que originam as ações do corpo, da fala e da mente.

3. CONSCIÊNCIA (Sânsc: vijnana): Como resultado das formações, há seis tipos de consciência, relacionadas aos seis sentidos (olhos, ouvidos, nariz, língua, corpo, mente).

4. NOME-E-FORMA (Sânsc: nama-rupa): “Nome” se refere às sensações, percepções, vontade e consciência, enquanto “forma” se refere aos elementos materiais: fogo, água, terra e ar. Forma, sentimentos, percepções, vontade e consciência são os cinco agregados que compõem a existência; são resultantes da consciência.

5. SEIS SENTIDOS (Sânsc: shadayatana): Visão, audição, olfato, paladar, tato e consciência, resultantes do nome-e-forma.

6. CONTATOS (Sânsc: sparsha): Resultantes do encontro dos seis sentidos com seus respectivos objetos (cores, sons, cheiros, sabores, formas/texturas, pensamentos).

7. SENSAÇÕES (Sânsc: vedana): Resultantes dos contatos; são classificadas como agradáveis, desagradáveis ou neutras.

8. DESEJOS (Sânsc: trishna): Querer as coisas que trouxeram sensações agradáveis e não querer as coisas que trouxeram sensações desagradáveis.

9. APEGO (Sânsc: upadana): Como resultados dos desejos surgem quatro tipos de desejos, relativos aos prazeres, às visões, aos rituais, regras e ao falso ego.

10. EXISTÊNCIA OU VIR-A-SER (Sânsc: bhava): Como resultados do apego surgem três tipos de existências: Nos prazeres (Sânsc: kamadhatu), na forma (Sânsc: rupadhatu) e na não-forma (Sânsc: arupadhatu).

11. NASCIMENTO (Sânsc: lati): É o processo em que surge em um dos reinos de renascimento, o aparecimento dos agregados e a aquisição dos sentidos, resultantes da existência.

12. VELHICE-E-MORTE (Sânsc: lara-maranam): Velhice é a decadência que o corpo sofre com o passar da vida, e morte é a decomposição, a dissolução dos cinco agregados.

 

Pode-se pensar que para não ter que passar pelo sofrimento seqüencial até chegar no envelhecimento e morte basta não nascer. Todavia, a causa principal do sofrimento não se encontra no nascimento, mas sim na existência gerada a partir da ignorância que é a primeira das doze interdependências. Isto é, se regredir até onde se encontra a causa original os sofrimentos não mais ocorrerão.

Esta é a forma de observação inversa (Gyakkan/Genmetsu engui) das doze interdependências. Se a primeira forma de observação apenas identifica, pode-se dizer que a segunda incorpora a superação do ciclo. Buda foi quem incorporou e concretizou os dois tipos de observação das doze interdependências.

 

Fonte: Revista Lótus nº 83