T odas as escolas budistas têm a mesma base: nasceram dos ensinamentos de Sidarta Gautama, o Buda Histórico, também conhecido como Buda Shakamuni.
Sidarta foi um príncipe indiano, filho do Rei Suddhodana e da Rainha Maya, que viveu há aproximadamente três mil anos, na região de Magadha.
Na ocasião de seu nascimento, um famoso profeta advertiu seu pai, rei do clã dos Shakyas, de que, caso fosse permitido a ele testemunhar as carências e o sofrimento do mundo, seu filho enveredaria por um caminho de buscas e provações até se tornar um líder espiritual. Para evitar esse fim, o Rei Suddhodana tentou proteger o filho e criá-lo cercado apenas de beleza e riqueza.
No entanto aos 29 anos, em um episódio famoso, Sidarta saiu do castelo e se deparou pela primeira vez com um velho, um homem doente e um cadáver. Depois dessas impressões, questionou-se sobre se haveria algo que transcendesse tais sofrimentos.
Tomado por um sentimento de compaixão pela humanidade, Sidarta abandonou a vida de luxo no castelo e passou a buscar respostas para suas dúvidas através de práticas ascéticas. Obrigou-se a comer menos e meditar muito. Esperava desta forma eliminar o sofrimento. Mas por experiência própria, concluiu que a autoflagelação confunde a mente, ao invés de favorecê-la.
Ele intuiu, então, que o caminho para a libertação não estava nos excessos de luxo nem tampouco do ascetismo, mas sim em um ponto de equilíbrio entre eles. Vem daí a expressão “caminho do meio”, um dos pilares do Budismo.
Então, aos 35 anos, após sete dias e sete noites meditando sob uma figueira, ele percebeu o fluxo de suas vidas passadas e entendeu que o apego era fonte de seu sofrimento. Em níveis cada vez mais sutis sua mente se iluminou, plena e completamente. Não sendo mais apenas um príncipe, era agora um Buda, “O Desperto”.
Seu primeiro ensinamento após a iluminação é conhecido como as Quatro Nobres Verdades, que servem de diretrizes para todas as vertentes budistas.
1. Tudo na vida é sofrimento. Nascer é sofrer, envelhecer é sofrer, morrer é sofrer, estar unido com aquilo de que não gostamos é sofrer, separarmo-nos daquilo que amamos é sofrer, não conseguir o que queremos é sofrer.
2. O sofrimento é causado pelos desejos, anseios e apegos do ser humano. Se existe sofrimento é porque há causas para isso. É a lei da causa e do efeito.
3. O sofrimento pode ser levado ao fim. Isso acontece quando o desejo cessa. Cessam as causas, cessa também o sofrimento.
4. O homem pode ser libertado do sofrimento seguindo o caminho óctuplo, os oito passos ensinados por Buda para acabar com o sofrimento, que podem ser resumidos em não prejudicar os seres, trabalhar em benefício dos seres e controlar a própria mente.
Buda ensina que não inventou a verdade, e sim despertou para ela. Sendo assim, qualquer pessoa poderá também atingir o mesmo estado de iluminação e sabedoria que ele alcançou. Ser budista não significa crer e adorar sua imagem, mas sim dedicar-se a verdade que ele descobriu e que constitui as Leis da Natureza.
O Buda Histórico é uma manifestação física e transitória do Buda Primordial. Assim sendo, nasceu com a nobre missão de nos ensinar como atingir a iluminação, mesmo sob a forma “humana”, passando pelos mesmos obstáculos mundanos e nos ensinando a se integrar ao Buda Primordial.
Por ser transitório, não é correto ter sua imagem como alvo de veneração. Justamente por isso, nos templos do Budismo Primordial não existem estátuas de Buda, ao contrário de tantos outros templos budistas. O Buda Histórico é um modelo a ser seguido por nós, mas não podemos venerar algo temporário, sujeito a mutabilidade. O próprio Buda baniu tal forma de devoção.
A única forma de nos unirmos ao Buda Primordial é cultivá-lo na sua forma espiritual, o Gohonzon (Imagem Sagrada). Toda vez que oramos o Odaimoku (NAMUMYOUHOURENGUEKYOU) nos aproximamos do Buda Primordial e recebemos a virtude da sua iluminação.