Até que ponto podemos confiar na mente?

Prédica V.2921 – Bispo Seijun Nagamatsu
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O médico neurofisiológico Rodolfo Llinás, MD, Ph. D. ODB, colombiano de trajetória reconhecida a nível mundial, disse certa vez em entrevista a Revista Veja (nº 1560, agosto 98):

“Tudo que você vê, ouve e sente, reflete o mudo exterior. No entanto, a forma como alguém percebe, interpreta ou reage a isso é pura criação do cérebro. O que o cérebro faz o tempo todo, dormindo ou acordado, é criar imagens” diz Llinás, atualmente chefe do Departamento de Psicologia e Neurociência da Faculdade de Medicina da Universidade de Nova Iorque.

“Luz nada mais é que a radiação eletromagnética. Cores não existem fora da nossa mente. Nem os sons. O som é um produto da relação entre uma vibração externa e o cérebro. Se não existisse o cérebro não haveria nem sons, nem cores, nem luz, nem escuridão”.

É uma afirmação interessante de se estudar. No budismo, desde tempos remotos, através de práticas e meditações muitos buscaram um estado de ‘vacuidade’, afirmando que tudo o que vemos são produtos da mente e que na realidade a realidade não existe fora da nossa própria mente.

Também aprendemos que a vacuidade não é um simples vazio, mas um ‘vazio energizado’, que de repente pode dar  início a formação de um universo. Simplesmente estas formas de energia se transformam em matéria e fenômenos que vemos frequentemente. Desta forma, tudo se relaciona, tudo têm seu sentido. Porém, podemos compreender apenas de forma fragmentada, pela própria limitação que a mente nos impõe.

Até quando estaremos condenados às imposições da mente e das experiências que ela passa? É uma incógnita, ao menos para quem não vive a espiritualidade fora dela.

A espiritualidade única, que no budismo se chama de “Iluminação”, significa tornar-se dominante desta máquina de cálculos e criadora concepções que se chama mente. Até mesmo nossos sentimentos, na maioria da vezes é influenciado por ela. Nesta interpretação, não seria “Penso, logo existo”, mas sim o pensar é um derivado da existência e dominância da própria mente.

A fé, como porta da iluminação, seria então o mais importante elo entre o ser pensante, cheio de dúvidas, incógnitas e o ser convicto, interdependente e iluminado.

Muitas vezes seu próprio inimigo se encontra dentro de você mesmo e, enquanto você não se tornar dominante de si mesmo, a mente continuará a fazer isso contra você. Contra, porque procurará sempre o modo mais fácil e compreensível, sempre mais por menos esforço. E nem sempre a felicidade se encontra nesse meio.

A mente jamais entenderá o fator “Myou” (inefável, místico) do Namumyouhourenguekyou. Porém, sua fé não precisa compreender aquilo que muitas vezes a racionalidade não explica. Antes de tudo, a fé principia a oração. Depois a mente, como sempre, virá concluir. Mas, quem praticou a ação, a princípio, foi a fé. O acúmulo dessas realizações resultará numa grande iluminação o tornando num verdadeiro Bossatsu, um Buda em ação.

Fonte: Revista Lotus – Edição 96, página 01